quarta-feira, 27 de julho de 2011

Sintética? é isso mesmo..

Salve nação, saiu uma matéria no Valor Econômico sobre uma tal de maconha sintética produzida nos EUA que está gerando uma boa grana. Com ctz mtos por ai serão contra pois não é natural, mas o lance é q ela ainda não foi proibida e abre ainda mais a discussão sobre o uso da erva, o q é sempre bom.

O texto é grande mas vale a leitura!

Droga 'disfarçada' já movimenta bilhões e preocupa os EUA


Ben Paynter | Bloomberg Businessweek
12/07/2011

É tarde de uma sexta-feira de abril e Wesley Upchurch, o jovem de 24 anos que é o proprietário da Pandora Potpourri chegou à sua fábrica para encaminhar algumas encomendas de última hora para o fim de semana. A fábrica é uma garagem sem identificação, vizinha de uma oficina mecânica em Columbia, no Estado americano do Missouri. O que Upchurch e seu único funcionário contratado em período integral Jay Harness, 21 anos, estão fazendo é questionável, pelo menos no ponto de vista dos dois.




O produto acabado parece maconha comprimida e é vendida a US$ 13 no atacado, em embrulhos de três gramas. Seu principal ingrediente é um cannabinoide sintético que imita o tetraidrocanabinol (THC), o princípio ativo da maconha.

O espaço de trabalho consiste de uma mesa comprida e dobrável, com uma pilha de plantas, uma balança eletrônica do tamanho de uma calculadora de bolso, uma pilha de papel-alumínio rosa-choque e um selador a quente. Cada pacote leva a marca Bombay Breeze e é decorado com uma logomarca psicodélica de um elefante de história em quadrinhos meditando entre rolos de fumaça e estrelas.

Em poucos anos, surgiu uma complexa rede via internet de produtores e vendedores de narcóticos

Upchurch coordena os trabalhos enquanto Harness pesa porções da folhagem prensada, empacota e desliza a ponta do embrulho para a máquina de selagem a quente para criar uma embalagem hermética. Ele finaliza cerca de uma dúzia delas em 10 minutos, chegando ao número que eles vão precisar para atender os pedidos: dois carregamentos de mais de 1.000 pacotes cada. Upchurch aponta para uma ressalva na parte de baixo de cada pacote, à direita, onde se lê em letras maiúsculas: "INADEQUADO PARA CONSUMO". Upchurch diz: "Isso é para desencorajar o abuso".

Apesar de seus protestos, o produto da Pandora está sendo consumido - fumado em cachimbos d'água e resenhado em sites como o YouTube - por sua capacidade de alterar a mente. Assim como muitos outros, Upchurch está reembalando produtos químicos medicinais para serem vendidos no mercado varejista, frequentemente com palavras engenhosas de duplo sentido nas marcas. Ele diz que vende cerca de 41.000 pacotes por mês, entregando-os diretamente para 50 lojas espalhadas pelo país, e envia o resto para cinco outros atacadistas, alguns dos quais usam os produtos da Pandora para criar suas próprias marcas. Upchurch diz que sua companhia terá uma receita de US$ 2,5 milhões e lucro de US$ 500.000 este ano, dependendo do que as leis federais e estaduais permitirem.

"Incensos" como o de Upchurch, juntamente com "sais de banho" e até mesmo "desinfetantes de vasos sanitários" vêm pipocando em postos de gasolina, lojas de conveniência, "coffee shops" que não vendem muito café, e sex shops.

Os canabinóides sintéticos são os mais comuns entre uma variedade crescente de drogas que reproduzem efeitos de substâncias ilegais, a maioria cultivada, mas são baseadas em compostos manufaturados e muitas vezes legais.

Em poucos anos uma complicada rede de fornecimento global, possibilitada pela internet, surgiu para produzir, embalar e despachar uma variedade cada vez maior de narcóticos. Ela está abocanhando uma parcela cada vez maior do mercado de drogas recreativas, estimado por Jeffrey A. Miron da Universidade Harvard e do Cato Institute, em US$ 121 bilhões na América do Norte.

Scott Collier, do órgão do governo americano responsável pelo combate às drogas (DEA, na sigla em inglês) em St. Louis, estima que há hoje pelo menos 1.000 fabricantes de drogas sintéticas nos Estados Unidos. Este número diz respeito apenas àqueles que possuem marcas reconhecidas. "Acrescente as pessoas que estão usando a internet como ponto de fornecimento e fabricando nos porões, e esse número aumenta consideravelmente", afirma ele. Muitas drogas sintéticas são fáceis de serem produzidas; vídeos detalhando o processo, com 10 minutos de duração, podem ser vistos no YouTube.

Embora não monitorado nos EUA até poucos anos atrás, o mercado do tipo de "incenso" vendido por Upchurch gera hoje perto de US$ 5 bilhões por ano, segundo Rick Broider, presidente da North American Herbal Incense Association (Nahita), que representa mais de 650 fabricantes, atacadistas e varejistas. Broider diz que seu número é baseado nas estatísticas de vendas fornecidas pelos membros.

Daniel Francis, diretor executivo da Retail Compliance Association, outra organização setorial, fundada para ajudar a informar e proteger os direitos dos comerciantes, diz que contratou um analista independente que chegou a um número parecido.

Segundo a entidade que reúne as câmaras de deputados estaduais, pelo menos 32 Estados americanos promulgaram leis proibindo vários tipos de canabinóides sintéticos. Outros 18 aguardam legislações que aumentem as penalidades.

A maconha sintética ganhou notoriedade pela primeira vez na União Europeia em 2006; pelo menos 21 países membros informaram sua presença em 2009. (Enquanto os EUA e muitos outros países começaram a declarar ilegais esses produtos, pelo menos um, a Nova Zelândia, seguiu o caminho inverso. Em março, o governo anunciou um plano para legalizar a venda de produtos com os analgésicos JWH-018 e JWH-073 para qualquer pessoa com mais de 18 anos.)

As drogas sintéticas também não estão limitadas apenas à reprodução dos efeitos da maconha. Os chamados sais de banho ou desinfetantes de vasos sanitários são, na verdade, a segunda onda das drogas sintéticas: alternativas químicas que simulam os efeitos de substâncias mais pesadas - algumas orgânicas, outras não - como as metanfetaminas, a cocaína, o esctasy, o ácido lisérgico (LSD), a fenciclidina (PCP) e até mesmo coquetéis que misturam todas essas substâncias.

A sociedade pode estar apenas começando a entender as implicações de uma nova categoria de drogas

Pelo menos 38 estados americanos já baniram ou aguardam legislações para proibir alguns catinonas sintéticos, que reproduzem os efeitos de algumas drogas como as metanfetaminas.

A sociedade pode estar apenas começando a entender as implicações de uma nova categoria de drogas que promete paraísos artificiais como os produtos orgânicos, sem os incômodos do cultivo, que podem ser transportados em pequenos tijolos, e não em pacotes, que cães amestrados não podem, ou ainda não sabem, como identificar, e que não deixam resquícios nos testes antidrogas. Tudo indica que as réplicas sintéticas de drogas cultivadas, sejam elas legais ou não, chegaram para ficar.

Conforme afirma Collier, "a corrida começou".

Paul Cary, director do Laboratório de Toxicologia e Monitoramento de Drogas da Universidade de Missouri Health Care em Columbia, Missouri, trabalha como consultor especializado da associação nacional dos juizados que cuidam de casos de uso de droga (National Association of Drug Court Professionals). Testes de urina que detectam alguns compostos de JWH foram desenvolvidos no fim de 2010, mas segundo ele esses testes ainda são caros e estão disponíveis apenas em um pequeno número de laboratórios especializados no país.

Jeremy Morris, um respeitado cientista forense do Kansas, pega sua amostra de pesquisa - um torrão de maconha e um pacote de incenso de marca Bayou Blaster - e a coloca em uma mesa ao lado de um microscópio.

O Kansas foi o primeiro Estado americano a proibir os canabinóides sintéticos, graças em grande parte ao trabalho de Morris e de sua equipe de químicos. Ele não cai na história do "incenso". "Está bem claro que as pessoas que estão vendendo esse produtos encontraram uma maneira legal de se transformarem em traficantes", afirma ele.

A erva claramente é maconha. É de um verde acastanhado, com um aroma doce e penetrante. E é "peluda", coberta com os chamados pelos cistolíticos. "A maioria das plantas não possui esse tipo de pelagem, a não ser o ópio", afirma Morris. Nas ruas, o perfil físico é suficiente para a polícia confiscar o material e incriminar as pessoas por posse de entorpecentes.

Em seguida, Morris despeja uma amostra de incenso. A erva é indiscernível e não há um cheiro revelador. "O cheiro é de incenso", diz ele. E com tantos ingredientes em potencial, os cães treinados para cheirar drogas não conseguem fazer seu trabalho.

Morris coloca a amostra sob o microscópio, que revela uma série de gotas de cor âmbar incrustradas dentro de folhas comprimidas. "Agora, você pode cortar a grama do quintal e fazer um produto que deixará você alucinado", afirma Morris. "A planta é apenas o veículo onde eles colocam os cristais." Assim, quando a polícia confisca um pacote suspeito, ele precisa passar por um teste.

No fim de 2009, a polícia do Kansas começou a receber relatos de funcionários de escolas de segundo grau, de que jovens estavam fumando incenso. Em vez de confiscar o material ou tentar fechar as lojas que estavam vendendo a droga, Morris solicitou a oficiais disfarçados que fossem até essas lojas e comprassem mais. Assim como Upchurch quando estava estabelecendo sua fábrica, Morris analisou os produtos químicos que aparecem nas marcas populares. (Upchurch não é químico; é um ex-web designer, mas pagou a um laboratório privado para fazer os testes que lhe permitiram elaborar suas receitas iniciais.)

Em seu laboratório, Morris identificou três ingredientes que provavelmente estão em todas as misturas - JWH-018, JWH-073 e HU-210 - e propôs ao Estado do Kansas que as proibisse. Em março de 2010 o estado colocou todas as três na ilegalidade. Outros Estados fizeram o mesmo. A Louisiana chegou a proibir o uso da planta Damiana, um arbusto originário da América Central que tem um aroma parecido com camomila. A proibição atual do DEA cobre cinco canabinóides, além de qualquer "análogo", pequenas manipulações de estruturas moleculares que basicamente atuam como a molécula original.

Upchurch compra muitos de seus "aditivos especiais" na China e tanto ele como Morris usam o diretório internacional de exportação Alibaba.com para averiguar quais estão disponíveis. Busque na internet "buy JWH" e você encontrará pelo menos 3.800 laboratórios chineses à espera de encomendas.

Para aqueles que fumam incenso, a designação errada dos produtos e a reformulação podem ser perigosas. "Todas essas coisas atuam em várias partes do cérebro, chamadas células receptoras", diz Morris. "Pense nisso como um sistema de fechadura. As células receptoras são a fechadura e a droga, a chave. Quando a chave entra na fechadura, abre as propriedades psicoativas da célula receptora."

Após testes mais de 100 pacotes de fornecedores diferentes, Morris percebeu uma tendência perturbadora: não existe uma tendência. O tipo e quantidade dos agentes que alteram a percepção mental em muitas misturas podem variar não só entre as marcas, como também entre os pacotes da mesma mercadoria. Ele encontrou processadores que usam canabinóides sintéticos diferentes que podem ser de duas a 500 vezes mais forte que o THC.

Os efeitos colaterais vêm aumentando junto com os lucros. A associação americana de que reúne os centros de controle de substâncias tóxicas documentou apenas 14 comunicados sobre os efeitos danosos do incenso em 2009. Esse número saltou para 2.874 em 2010. No fim de maio deste ano, o registro chegava a 2.324, a caminho para dobrar o número do ano passado. Hospitais relatam que fumar incenso pode provocar agitação, aceleração dos batimentos cardíacos, vômito, alucinações intensas e convulsões.

"A maconha pode deixar você calmo e relaxado, mas isso parece provocar ansiedade", afirma o Dr. Anthony J. Scalzo, diretor médico do centro de control e de tóxico do Missouri, que identificou o primeiro surto de visitas a prontos-socorros no fim de 2009. "As pessoas pensam que se você pode comprar legalmente, deve ser seguro. Mas elas não sabem com o que estão lidando."

Muitos estimulantes são reembalados como "sais de banho" - aquelas pequenas cápsulas de gelo solúveis. Mas em vez de serem vendidos em perfumarias e farmácias, eles são vendidos em pequenos pacotes em lojinhas com nomes como Sexperience, Ivory Wave e Vanilla Sky, por até US$ 50 a unidade. Em vez de colocá-los em uma banheira, para tomar banho, os usuários os esmagam para depois cheirá-los, fumá-los ou engoli-los. O uso dos sais de banho teve um repique parecido: os centros de controle de substâncias tóxicas receberam 302 telefonemas em 2010 e 2.507 até o fim de maio neste ano. Segundo Mark Ryan, diretor do centro de Louisiana, esses sais de banho podem provocar paranoia, ansiedade extrema, alucinações, agressividade, pensamentos suicidas, dores no peito e até mesmo "delírios de excitação", o chamado efeito Super-Homem, onde o usuário fica tão agitado e desligado da realidade que continua enlouquecido mesmo depois de levar um tiro.

Inicialmente a DEA apontou a Spice e a K2 (numa referência ao pico K2, o segundo mais alto do mundo), como as duas principais marcas de incenso que mais vêm sendo usadas. A Spice é europeia; em 2009 a alfândega e polícia de fronteira aboliram sua importação. A K2 é americana, fabricada originalmente por Jonathan Clark Sloan, que administra a Bouncing Bear Botanicals, uma vendedora de plantas exóticas e extratos naturais que opera a partir de um depósito em Oskaloosa, Kansas.

As autoridades caíram sobre Sloan, mas não sobre o K2. Em de fevereiro de 2010, a polícia do Kansas e o órgão federal que regulamento alimentos e medicamentos (FDA) invadiram as dependências da Bouncing Bear. Sloan sofreu 20 acusações na corte de justiça estadual, incluindo cultivo ilegal e distribuição de várias substâncias controladas - estimulantes como mescalina, bufotenina, dimetiltriptamina e amida de ácido lisérgico, que supostamente estavam sendo colhidos de uma série de cactos, sapos, cascas de árvores e sementes de rosa gymnocarpa do Havaí, respectivamente.

Em maio, a Retail Compliance Association (RCA) optou por solicitar a congressistas que considerem um sistema de licenciamento federal para ajudar a monitorar os fabricantes e distribuidores em operação e os produtos químicos e dosagens que eles estão usando. Ao contrário de Upchurch, a RCA diz que os produtos provavelmente serão consumidos. "Não há dúvidas de que as pessoas estão comprando esses produtos e usando-os para fins não indicados. Elas estão fazendo o que querem com eles", diz Francis, diretor da RCA.

Upchurch adotou suas próprias restrições. No verso de cada pacote há mais dois avisos: um afirma claramente que não há nele nenhuma substância proibida pelo governo federal. O outro declara que os pacotes não podem ser vendidos para menores de 19 anos. Ele também diz que testa seus produtos duas vezes durante o processo de fabricação para garantir a qualidade.

A atenção com a produção e rotulagem não parecem garantir o cumprimento da lei. Nesta primavera americana, Morris surgiu com uma nova abordagem ao combate às drogas. Em vez de tentar eliminar os ingredientes problemáticos um a um, ele fez uma petição bem sucedida ao poder legislativo do Kansas, para a proibição de sete classes de produtos químicos mais comumente associadas aos canabinóides. Quando a lei entrou em vigor no fim de março, ela proibiu centenas de compostos ao mesmo tempo. Outros oito Estados, incluindo o Missouri, adotaram medidas parecidas. Kansas e quatro outros Estados também aplicaram a tática aos sais de banho, proibindo uma grande classe de estimulantes que inclui a mefedrona e a metilenodioxipirovalerona.

Essas medidas poderão se transformar num modelo para uma ação nacional mais ampla: o Congresso está considerando uma proibição à classe dos canabinóides sintéticos. Ela também se aplicaria à próxima geração de linhas de produtos, como os canabinóides sintéticos em cápsulas chamados "fertilizantes de plantas", supostamente para o uso em plantas domésticas.

A lei do Missouri que proíbe totalmente os canabinóides sintéticos entrará em vigor em agosto. Para a Pandora Potpourri isso significará algumas mudança nos negócios. Na fabriqueta de Upchurch há uma prateleira cheia de caixas grandes a abertas com tipos diferentes de ervas. Como as leis estaduais não são as mesmas e podem mudar rapidamente, ele deixou de criar grandes lotes sob medida para cada região, e passou a criar pré-misturas de ingredientes tratados para atender aos padrões dos vários Estados. "Quando os compostos ficam fora da lei, nós os removemos e substituímos por alternativas apropriadas", diz ele. "Em geral isso varia de lote para lote, com base no destino." (Tradução de Mário Zamarian)

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